O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá
se pronunciar apenas no segundo semestre sobre uma alteração no regime
prisional brasileiro, que poderá beneficiar 20 mil detentos. A previsão é
do ministro Gilmar Mendes, relator de um processo que vai definir se os
presos que atualmente cumprem suas penas em regime semiaberto poderão
ter direito à prisão domiciliar quando não houver vagas disponíveis nas
penitenciárias.
Segundo dados do Ministério da Justiça, a
população carcerária no País é de 548 mil pessoas. No entanto, os
presídios dispõem de somente 310,6 mil vagas, o que gera um déficit
(falta de vagas) de 237,4 mil. Nesta segunda-feira, durante audiência
pública para discutir o tema com defensores públicos, promotores e
secretários de segurança, Gilmar Mendes criticou o governo federal pelo que classificou como um sistema “à beira do colapso”.
“Sabemos que o sistema prisional
brasileiro está à beira do colapso, apresenta diversas mazelas como a
superlotação e precariedade de instalações. Temos um grave problema no
que diz respeito ao funcionamento do sistema prisional. É preciso que a
União assuma de vez o seu papel de liderança na questão de segurança
pública”, disse o ministro.
O processo sob relatoria de Gilmar Mendes
é um recurso do Ministério Público do Rio Grande do Sul que contesta
decisão da Justiça gaúcha de garantir a um condenado ao regime
semiaberto que cumpra sua pena em prisão domiciliar por falta de vaga.
O juiz Sidinei José Brzuska, do Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul, acompanhou a audiência pública e
defendeu a decisão. Para ele, os presídios são responsáveis por
maus-tratos a condenados. Não são raros casos em que condeandos a
semiaberto acabam cumprindo a pena em regime fechado sob risco de morte.
Brzuska acrescentou que já foram registrados cinco esquartejamentos de
presos que deveriam estar em semiaberto e que há casos de presos dados
como foragidos, mas que foram mortos dentro da prisão.
“O sistema semiaberto virou rota de fuga.
O fato é que o Estado abandonou o sistema semiaberto, que virou um
açougue”, afirmou Brzuska. O defensor-geral público federal,
Haman Tabosa, também participou da audiência e destacou que é preciso
“acabar com mitos” relacionados à concessão da prisão domiciliar.
Tabosa afirmou que não se pode deixar presos em regime mais grave "por
omissão do Estado brasileiro" e pediu ao STF pressa em uma definição
sobre o tema, concedendo direito ao regime mais brando quando não houver
vaga. “Nós devolvemos à sociedade pessoas muito piores devido a falta
de políticas públicas de ressocialização e da precariedade do nosso
sistema prisional”, afirmou o defensor.
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